sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Eu nunca trabalhei na vida.

Antigamente a minha visão do que seria o "trabalho", tão deturpada pelo que a mídia me apresentava, era a de que trabalhar seria algo extremamente maçante e doloroso. Passei a minha adolescência inteira temendo o dia em que não teria outra escolha senão a de trabalhar em algum lugar.


Minha primeira experiência com o trabalho foi como monitora em um programa do governo que se chamava (ou ainda se chama, se é que existe hauaihauiah) Mais Educação. Eu não sentia que aquilo era um trabalho, porque eu me divertia tanto observando as crianças, lidando com elas, entendendo suas manias e seus gostos. Pra mim, aquele momento onde eu estava na escola, fazendo pelas crianças aquilo que eu acreditava ser o melhor para elas foi um marco na minha vida e me fez mudar de opinião sobre diversas coisas.
Mais tarde, abandonei este primeiro trabalho para ser telefonista em um grande centro universitário da região. Ali recebi uma aula sobre o que significava ter uma profissão e o quanto aquilo era importante não apenas financeiramente, mas pela satisfação pessoal e pela qualidade de vida. Mais uma vez eu não entendia aquilo como um trabalho, porque ficava o tempo todo tentando entender e ajudar as pessoas que eu atendia e tive que lidar com a frustração de que, às vezes, você não é capaz de ajudar alguém, por mais que você queira.


Foi aí que eu percebi que há dificuldades com as quais temos que aprender. Não aprender a lidar com elas como se não existissem, mas aprender a lidar melhor com elas.
Três anos depois, deixei de ser telefonista para me tornar professora. Nesse ponto da vida eu achei que já havia compreendido todas as pessoas. Acreditava na existência de uma fórmula de palavras com as quais era possível domar qualquer fera. Ilusão, na verdade. E nessa profissão eu senti a dor da frustração com mais força que o habitual, a intensidade da alegria que é ver clareando na mente de alguém um conhecimento que sempre esteve lá, mas que antes, esse alguém não via.


Desde quando comecei a atuar na área pedagógica, nunca senti que aquilo fosse um trabalho. Pra mim, é como lidar com a rotina da casa, da família. É parte de mim, é o que eu sempre quis fazer e sempre fiz, só que agora tenho um diploma na mão. Acho engraçado dizer, sinto que já tive muito trabalho, mas nunca trabalhei na vida!

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